Rua cheia de buracos é uma cruz
2010-01-03
Em Água Longa, Santo Tirso, a Rua da Cruz revelou-se uma verdadeira via-sacra para quem lá mora: um piso digno de um campo de batalha e respectivos danos nos automóveis obrigaram moradores já desesperados a comprar jipes. E há quem já tenha ido embora.
João Gonçalves foi mais longe: além do todo-o-terreno, adquiriu, ainda, um apartamento em Ermesinde, Valongo, para evitar incómodos. "Por causa destas condições", explicou, ao JN, enquanto apontava, amiúde: "O asfalto está destruído. Está a ver?". E vê-se nitidamente: a rua que leva à ETAR (Estação de Tratamento de Águas Residuais) de Água Longa - e sobre a qual jamais se suspeitaria ser o único caminho mais ou menos viável para as habitações do lugar da Cruz - é um verdadeiro calvário de sulcos, buracos, pedras vivas e lama fatais para automóveis.
"Tem aqui crateras. Os carros ligeiros destroem-se todos", atesta o morador, exibindo os amortecedores defuntos do carro da mulher. "Gastei mais de mil euros", lamenta.
A indignação de João Gonçalves cresce enquanto recorda o investimento que ali fez, em 2004, para asfaltar a rua. A obra custou 4000 euros; a Junta deu 500. "Asfaltei de modo a poder-se circular. Ficou impecável", garante, mostrando pedaços de asfalto sobreviventes. O que este morador não sabia, quando comprou, em 2001, a casa dos seus sonhos, "num sítio espectacular para se morar", é que ali perto seria instalada uma ETAR.
"Ficou tudo destruído de os camiões entrarem por aqui dentro", nota João Gonçalves, garantindo que, quando foi morar para a habitação que recuperou na Rua da Cruz, há cinco anos, o piso "não estava tão degradado".
"Não houve a preocupação de pôr isto como estava, no mínimo", revolta-se. "Depois de fazerem a ETAR, nunca arranjaram" a rua, reforça outro resistente. O apanágio terá, aliás, de servir os habitantes daquele recanto de Água Longa, onde as amarguras do esquecimento que se atribui à autarquia local se cruzam a cada passo com o murmúrio suave do rio Leça: segundo contas de João Gonçalves, "quatro famílias foram embora. Eu não posso ir porque comprei e gastei o que tinha", afirma.
"Isto é bom de arranjar. O que é preciso é boa vontade", sentenciava Joaquim Pacheco, que diariamente enterra os pés na lama da Rua da Cruz ou inunda os pulmões com o pó que se levanta, caso seja tempo de o sol espreitar. "Vimo-nos mesmo obrigados a comprar um jipe para estes caminhos", desabafa o outro morador, que preferiu não identificar-se por temer "problemas".
O JN contactou a Junta de Água Longa, que não respondeu em tempo útil. A Câmara disse desconhecer o problema.
1 comentário:
infelízmente água longa não tem apenas uma rua nessas condições. é vergonhoso que o caríssimo presidente não tenha a dignidade de pôr a sua freguesia em bom estado. p.s: todos aqueles que votaram no caro senhor manuel para presidente, continuem a votar, pode ser que ele vos dÊ mais provas do que é.
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